nunca apreciei o silêncio
na minha cabeça
gritaria
a noite bem dormida
não é
sonhada
nunca vivenciei o amor
o tédio gera
poesia
o dia bem vivido
é quando
acaba
-
-
não sentir
e ficar
satisfeito
não desejar
e estar
acordado
não odiar
mesmo
imperfeito
não vomitar
apesar de
regurgitado
pode ser
doença
ou
evolução
do
espírito
isto posto
meu rosto
é restrito
sem dar
o tapa
à cara
sem buscar
desvendar
os caminhos
seus
sem querer
ver
a
face
de
deus -
afinei minha voz
no teu corpo
por um
pouco
foi
o
bastante
nada
que justifique
meu viés
obcecado
urgente
e
errado
notas quentes
substituídas
por
decepção
veneno
de
rato
em
teu
colchão
mas ainda
mastiga
minha
mente
vestir
uma camisa
de flanela
igual
aquela
que tua
mão dedilhou
como um
arpejo
induzindo
ao
delírio
e ao
beijo
e no
princípio
criou deus
os céus
e
a
tela
e
no final
era só
uma
camisa
muito
velha -
todo vazio
que me
inunda
faz toda
manhã
ser
segunda
toda
escolha
ser
peremptória
toda
paixão
moratória
Instagram: @farolabandonado -
a genialidade
de ficar quieto
não passa perto
da epopeia
do
poeta
vim para
transcrever
pesadelos lúcidos
ampliar
horizontes bêbados
regurgitar
cacetes nostálgicos
ofender
altezas fonéticas
o que profano
em altares silábicos
é parte do
entretenimento
que uns
chamam
de
recalque
outros
chamam
de
arte
mas afago
no conceito
de tédio
sendo
o melhor
remédio
para dissipar
a
latência
da
dor -
tenho a curva da serpente no pescoço
me alivio com imagens de súcubos
sou a soberba envolta em cal ardente
meses de maio sou sempre diferente
antes corria contra a tua indecisão
hoje teu nome é uma contravenção
estranho que amor que vira ódio
sucumbe numa punheta indiferente
já vi tanta desgraça desde você
que às vezes ouso em te esquecer
mas maio tem em todo ano
e eu me lembro por engano
da minha partida subvalorizada
sem culpado ou cusparada
além do teatro do sétimo andar
mas eu me visto de vampiro
não importa o que for contar
amanhã eu estou em mim
e aqui não é mais teu lar -
as melhores ideias são as que eu
perco ao amanhecer
não perdoo você
e nem arredo
o pé
nosso ideal
ao fazer sexo tântrico
à escuridão poética
da
aurora boreal
agora inexiste
como todos
os antigos
poemas
apócrifos
como as controversas
conversas
que nunca mais
teremos
sobre
o medo
do tempo
nos
crucificar
agora viajo sozinho
com o gatilho
sempre perto
do meu
colarinho
e com
a
intenção
astuta
de nunca
visitar
sua
cripta -
passei a
respeitar
a dor
que não é
benigna
o verso
quando
não é
por
acaso
o amor
quando é
abnegado
o poeta
quando
fica
calado -
depois da chuva
tudo é relevado
o pasto com seus
cogumelos
energizados
as motos
com seus
perigos
arrotam
dissonância
e
ousadia
o chá
prensado
com cheiro
de urina
de ratazana
a música
cristã
dos
hipócritas
da
cabana
a doença
que me
levou
para longe
a sentir
o odor
matutino
das entranhas
do barqueiro
a lição
que fingi
aprender
que nessa vida
nada nasce
por inteiro -
essa ampulheta
de sangue
nos causa
pavor
o cérebro
não computa
como
antes
tapo
minha boca
com fita
isolante
não tenho
paciência
para esse
orgulho
exacerbante
não jogo
mais
esse jogo
que
te
satisfaz
não sentimos
o mesmo
não somos
iguais
um dia
quando
você
acordar
eu já não
vou
mais -
caio na tentação de sonhar com sua apneia
e lá se vai mais um dia de rimas e cefaleia
a doença como pretexto para se sentir abrigado
a cara de safada que é um disco ao contrário
o crime hediondo como prevenção ao castigo
a ruptura forçada contra uma aliança desgastada
a imensidão entre o que se é e o que se quer demonstrar
os caninos desgastados pela inconformidade diária
a pretensão de se ser maior do que a feiúra do espelho
da minha língua arisca brotaram calos nos meus joelhos
você adorando a deus fazendo o que o diabo gosta
não são apenas suas mãos que agradam minhas costas
eu fujo da métrica como seu punho ao me atingir
passeio com meu cão cego sem medo de me despedir -
o olho que mareja
e não é tristeza
é a paz que existe
no canto dos
passáros
mortos
nunca houve
resquícios
de verdade
nas tuas
palavras
eu não tenho
ódio
só
desgosto
o
contraponto
do
desejo
tua falsidade
será o pingente
mais brilhante
da tua
mortalha
não teremos
histórias
pra contar
apenas
os restos
dos pratos
finos
que
dividimos
em
vão