eu só tenho dez minutos
para lembrar do piano
melancólico do nosso
último encontro
para me banhar
criando metáforas
acerca dos poemas
que amaldiçoam
nosso amor
para sofrer pensando
em todos os glóbulos
vermelhos que deitei
após quebrar nossos
espelhos
para sorrir ao ver
as horas e a ironia
de ter dado o relógio
que você me presenteou
à primeira acompanhante
que me pediu
não preciso de dez minutos
para dedicar a você
se já me considero
farto antes das
seis
Autor: Tiago Fernando
onde nos misturamos
domingo
não há sol
no universo
descorado
daqueles que
não saem
de casa
eu nunca
acordei
feliz
recebendo
a horda
de exigências
de ser
qualquer coisa
além
da
minha
pequenez
e a crueldade
reside
na
esfinge
de que nada
me
satisfaz
todo
topo
antecipa
uma grande
queda
e
tudo aquilo
que
eu almejo
com veemência
será
repugnante
quando
novos domingos
chegarem
despencando do terraço Itália
a vida sob dor
dó sob medida
sobre nós
uma aliança
mezzanotte
partida
o convívio
do medo
sendo
seu
deus
meu
crepúsculo
seu
paraíso
minha
danação
sua
raiva
meu
gozo
incrédulo
acerca
do
novo
aeon
rabiscos
em diário
ofertando
trocas
a
Paimon
e tudo
pra você
é um jeito
de me
doutrinar
uma lição
decerto
esse seu
amor
flácido
de
todavias
e
entretantos
e eu
gestacionando
ódio
por
lhe
amar
cozinhando
bombas
sarcásticas
de
palavras
afrontosas
de
pura
retaliação
chego
rancoroso
a me
convencer
de que
nunca
quis
você
ao meu
lado
apenas
queria
ter
o que
escrever
a cavalaria
a lenda ressurge e engloba a própria ficção com símbolos, velas e vandalismo psicomoral
as pernas que ondulam sua vergonha são as mesmas que sucubem ao desespero em posição fetal
as frases que adulam são as mesmas vozes que carecem do eco torturante da compaixão do umbral
a serenidade benzodiazepínica é a glória das novas incursões aos limites do abismo
e eu sei que é tentador rir do enforcado enquanto ele se debate clamando entonações maníacas ao seu nome
e eu sei que é tentador sentir pena como minimização de um passado desastroso e um presente anestesiado de ópio e flores
mas esse sentimento é tudo que lhe resta antes da sua própria jornada de decadência
e lá estarei, sorrindo, como sombra e espelho da caricatura que se tornou a sua pálida e pesada alma
anedota da culpa
tanta destreza em se perder pela madrugada
e deus não teve piedade dos notívagos que despertam cedo
e deus não derramou sua misericórdia sobre os fadados à loucura da dependência química
e toda forma que há padece na bipolaridade
o diabo sorri e sabe a hora certa de lhe tentar
a história verdadeira dos nossos dias no deserto ninguém sabe contar
ninguém quer se comprometer e se responsabilizar pelo fruto proibido
e a serpente sábia e entediada leva a culpa pelo coito não interrompido que gerou nossas míseras vidas de pequenas vitórias irrelevantes no plano maior
o preço das araucárias
sempre é assim
tão difícil
de diferenciar
raízes
de
codependência
pois
quem
jura
paixão
torna-se
um caldo
raso
que
rechaça
o
interesse
quem
nos
fascina
nos
reprime
e nos
judia
como
cachaça
em dia
quente
o amor
arde
como
o poeta
no
inferno
é como
estourar
bolhas
de
queimaduras
na pele
insana
e o que
era
pra ser
santo
vira
sádico
e o que
era
pra ser
puro
vira
fálico
amar
é
estigma
recorrente
que
precede
a vontade
mórbida
de ansiar
pelo
fim
pseudoanálise
esse perfil
tão saturado
de ato falho
posando
de sacro
puro
e
decente
eu
vejo
as
lágrimas
assoberbadas
de ser
você
arrogante,
por temer
se sentir
miúda
enclausurada,
por ter
seus
valores
nas mãos
alheias
perdida,
pois seu
desejo
não condiz
com a
realidade
que lhe
consome
ainda
que
você
consiga
se
encontrar
eu
nunca
poderei
deitar
minha
língua
neste
destemido
sotaque
britânico
pois
sou
apenas
aquele
que
observa
ressentido
a decadência
de mais
um império
pós
romântico
apocalíptico
ganesha
meu altar
coroado
com
garranchos
e
rancores
flores
de
ofensas
inócuas
a quem
não
me
vê
não
me
sente
mas
ainda
faz
terror
no meu
presente
eduardo e mônica
o poema
não é
para você
sobre você
ou uma
tentativa
de lhe
contar
segredos
nas
entrelinhas
há muito
que musas
residem
em tumbas
e poetas
são
perdigueiros
caçadores
de
carniça
não tem
ponto
vírgula
ou
exclamação
sobre
a
angústia
de lhe
ver
encarnada
o poema
é apenas
o açoite
sórdido
do
que
nunca
será
solitude
sempre
será
a mais
devassa
solidão
te ver e não te querer
e o verso
que se
repete
a ânsia
que
se
derrete
nas
entranhas
da melancolia
neve
nos trilhos
afoitos
da
poesia
pouco
me
procuro
quando
te
encontro
fazendo
mel
na
saliência
do meu
inimigo
tampouco
quero
vingança
não almejo
ter prazer
ter paz
ou
ter
esperança
nunca fizemos
realmente
par
nunca
salivamos
o
desejo
de uma
mesma
dança