o antídoto para mim

você que nunca me viu morto em um quarto de motel

sabe bem que eu sinto que minhas férias soam como um sinal de fraqueza

que a beleza que eu falava que tinha guardada era apenas poesia batizada

e os pássaros que eu perseguia era psicopatia engavetada

e não o amor em estado sacro e de pureza

você que apenas sentia de longe o cheiro do meu sangue coagulado

sabe bem que por atenção eu invento até um romance castrado

que meu tempo chegou

broxa, endividado, fingindo que acredito que a sobrevida é uma constante redução de danos

e que sequer os minutos que se aproximam ao final do poema fazem parte dos meus planos

você que sabe tudo sobre temer a solidão, o frio, o feitiço, a deus e ao inferno

também sabe que a minha existência é um devaneio incômodo hodierno

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