eu tenho meus motivos para deixar tudo como está
sou o que posso ser agora e por isso deixo as coisas pra lá
que seja tarde a versão sépia da nossa fotografia
que seja processo de prosa ao invés de poesia
que os golfinhos morram aflitos em sacrifício
que todos nossos beijos sejam agora desperdícios
que a noite seja o farol de quem tem fotofobia
que a homeostase seja sua prisão e maior agonia
são os rituais e tiques da nossa convivência
são os prismas míopes da nossa decadência
e quando voltar a querer algo em troca
vê na minha lápide o sentido que lhe desfoca
e faça como eu
deixa pra lá
pois os anjos
têm as suas
próprias
obsessões